Por Geórgia Alves
O céu é de um azul intenso, clarinho e cheio de pássaros. Branca é uma ovelhinha que mora numa montanha. Um descampado... Ela admira o bando pintando paisagem em pontos alvinhos, e sua cabeça bate na nuca! Ou seria nas nuvens? Sim, Branca é uma sonhadora ovelhinha que neste exato momento deseja mais-do-que-tudo voar. E se arrisca. E como! Do alto da montanha.
Apesar do delicado esforço de escolher as palavras, até mesmo em suas letras, o parágrafo acima em nada descreve o sentimento – ou gosto, mesmo, na boca, que invadiu o coração de Enrico, ao ver, pela primeira vez, as páginas do livro “contando” a história da cativante ovelhinha Branca. Ver, sim. Porque o livro não “se empresta” uma palavra sequer senão o título, nome da autora (Rosinha Campos), editora (Paulinas) e dedicatória: “Para Ninfa e André...”. A reação do menino de seis anos é imediata: “Vamos ver de novo, mamãe?”. E “mamãe” confessa, “sabe que eu ia pedir o mesmo...”
Esta mamãe, e muitas outras que eu conheço, tem prazer semelhante ao ler livros de Ruth Rocha (muitos!), Ziraldo (O Menino Maluquinho e tantos!), Lygia Bojunga Nunes (A Bolsa Amarela), Clarice – por que o espanto? Ela publicou cinco infantis - Ana Maria Machado, Marina Colasanti, e o autor que está presente até os dias de hoje no nosso imaginário na forma de Narizinho, Pedrinho, Emília, Visconde, Tia Nastácia e Dona Benta. O incrível Monteiro Lobato. Como assim “incrível”. “Muito pelo contrário”, é o autor mais do que capaz de fazer gerações e gerações acreditar no pó de pirlimpimpim.
Rosinha, por exemplo, brinca de vez em quando com esse pó mágico. Em 2005, esteve na Guatemala. Como convidada para o seminário sobre Ilustração de Literatura Infanto-juvenil, a convite da Embaixada Brasileira naquele país. Agora é a Embaixada da Eslováquia no Brasil que quer ouvir suas histórias. Mais de quarenta livros publicados em várias editoras brasileiras: Ática, Paulinas, Pallas, Melhoramentos, DCL, Callis, Landy, SM, Scipione, Brasil, FTD, Paulus, Projeto, Record, Folha de São Paulo, entre outras. Rosinha vai à Bratislava, aos pulos – por um lado, que nem Branca. Por outro, não saltou da montanha, vem desde 1994 – oficialmente – passo por passo, se arriscando nessa subida.
Sua nova viagem será na primeira quinzena do mês de setembro, na Bratislava, mas agora mesmo ela já está no município de Flores, no Sertão pernambucano, num trabalho de afirmar: “Ler é Preciso”, que ganhou forma de oficina, por se tratar de esforço muito grande, não se enganem vocês, num país que ainda caminha para superar o analfabetismo. Ou o egoísmo político. Bom, Rosinha continua sua aventura. Logo, entre os dias 19 e 26 de agosto, estará em São Paulo, em seminário de leitura promovido pela FNLIJ.
Sem falar que, como ilustradora, vez enquando se junta com autores como Ronaldo Brito (A trilogia do Baile do Menino Deus), e aí: “bum”. Recebe menção honrosa na Feira do Livro de Bolonha, Itália. Junta – se à Liliana Iacocca, natural do bairro da Mocca, dos imigrantes italianos de São Paulo, que em mais de vinte anos de carreira jornalística, resolveu pesquisar a vida de Lampião e Maria Bonita – a rainha e o rei do cangaço, e ganha o prêmio de melhor ilustração em 2006, pela segunda vez. Ah, sim, claro! A primeira, com direito ao selo ALTAMENTE RECOMENDÁVEL, da FNLIJ, foi em 2005, com a história da ovelhinha, lembram?
Quem quiser conhecer mais detalhes da história de Rosinha Campos, seu atelier fica num descampado também. Na Rua do Cupim, bairro das Graças, Recife, Pernambuco, Brasil. América Latina. Terra. Sistema Solar, logo aqui, na Via Láctea.
Texto publicado em:
Geórgia Alves é jornalista e especialista em Literatura Brasileira.
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