sexta-feira, 19 de setembro de 2008

O Girassol


Vinícius de Moraes

Sempre que o sol
Pinta de anil
Todo o céu
O girassol
Fica um gentil Carrossel.

O girassol é o carrossel das abelhas.
Pretas e vermelhas
Ali ficam elas
Brincando, fedelhas
Nas pétalas amarelas.

— Vamos brincar de carrossel, pessoal?

— "Roda, roda, carrossel
Roda, roda, rodador
Vai rodando, dando mel
Vai rodando, dando flor".


— Marimbondo não pode ir que é bicho mau!
— Besouro é muito pesado!
— Borboleta tem que fingir de borboleta na entrada!
— Dona Cigarra fica tocando seu realejo!


— "Roda, roda, carrossel
Gira, gira, girassol
Redondinho como o céu
Marelinho como o sol".

E o girassol vai girando dia afora . . .

O girassol é o carrossel das abelhas.


quinta-feira, 18 de setembro de 2008

A Literatura Infantil Ontem e Hoje


Por Márcia Oliveira


"A história da Literatura Infantil tem relativamente poucos capítulos. Começa a delinear-se no fim do século XVIII, quando a criança passa a ser considerada um ser diferente do adulto, com necessidades e características próprias, pelo que deveria distanciar-se da vida dos mais velhos e receber uma educação especial, que a preparasse para a vida adulta".


CUNHA; Maria Antonieta Antunes. Literatura Infantil, teoria e prática, Ática, 2006, p.22.


De fato, a Literatura Infantil tem relativamente poucos capítulos, apesar de sabermos que desde a antigüidade já havia literatura, uma literatura essencialmente oral, contada nas rodas de leitura, onde se destacavam as poesias e as histórias de cavalaria, apreciadas por adultos e crianças, numa época em que a infância não era pensada tal qual a compreendemos hoje.


Somente em meados do século XVII, com a industrialização e, claro, com o início do processo de afirmação político-ideológica da sociedade burguesa, fortalecido pelas práticas difusoras de seus ideais a partir de fortes instituições ideológicas (família, escola, igreja) é que a criança passa a ser vista como um ser diferente do adulto, que tem indagações e necessidades próprias e necessita decodificar valores ético-morais do mundo que a circunda.


Surge então, nessa perspectiva, a Literatura Infantil, cujos primeiros textos voltados para as crianças foram organizados e adaptados pelo francês Charles Perrault. A partir do século XVIII, com o advento da tipografia, o que proporciona o aumento da produção cultural livresca em série, a Literatura Infantil ganha mais força, atingindo seu apogeu no século XIX, sobretudo com as adaptações dos irmãos Grimm e com o surgimento de autores como Júlio Verne, Lewis Carrol e muitos outros.


A industrialização européia fatalmente contribuiu para uma maior preocupação em relação ao aumento das vendas de livros, o que levou a sociedade burguesa a pensar a criança como um forte mercado consumidor. Porém, o principal objetivo da Literatura mirim não era esse. A criança é um ser social em construção e precisa associar valores da ordem social a qual poertence. Por isso, a Literatura Infantil foi utilizada como veículo disseminadsor dos valores ideológicos burgueses, sendo auxiliada, principalmente, pelo árduo trabalho dos adaptadores.


Como a Literatura da sociedade antiga não se destinava exclusivamente à criança, o trabalho de Perrault iniciou este processo, adaptando os contos de fadas à estrutura e à ordem social vigente, direcionando-os a um público específico: a criança burguesa.


Valores sócioculturais como o casamento, a moda feminina e a ascenção econômica são fortemente difundidos nos textos infantis (principalmente os contos de fadas) dos séculos XVII, XVIII e XIX, e fazem do adaptador um silencioso transformados do caráter popular dos textos das sociedades antigas em um caráter burguês fortalecido pelos séculos XVIII e XIX e matido pela sociedade atual, que vem perpetuando estes valores através de uma pedagogia moralizante, porém, a meu ver, com um diferencial crítico maior do que nas sociedades anteriores. O que se percebe na Literatura Infantil hoje (entenda hoje como desde Monteiro Lobato) é um aumento da importância de se mostrar valores culturais e, sobretudo, de despertar na criança a imaginação e o prazer mágico da leitura.

O Universo do Texto Infantil


Por Geórgia Alves


O céu é de um azul intenso, clarinho e cheio de pássaros. Branca é uma ovelhinha que mora numa montanha. Um descampado... Ela admira o bando pintando paisagem em pontos alvinhos, e sua cabeça bate na nuca! Ou seria nas nuvens? Sim, Branca é uma sonhadora ovelhinha que neste exato momento deseja mais-do-que-tudo voar. E se arrisca. E como! Do alto da montanha.


Apesar do delicado esforço de escolher as palavras, até mesmo em suas letras, o parágrafo acima em nada descreve o sentimento – ou gosto, mesmo, na boca, que invadiu o coração de Enrico, ao ver, pela primeira vez, as páginas do livro “contando” a história da cativante ovelhinha Branca. Ver, sim. Porque o livro não “se empresta” uma palavra sequer senão o título, nome da autora (Rosinha Campos), editora (Paulinas) e dedicatória: “Para Ninfa e André...”. A reação do menino de seis anos é imediata: “Vamos ver de novo, mamãe?”. E “mamãe” confessa, “sabe que eu ia pedir o mesmo...”


Esta mamãe, e muitas outras que eu conheço, tem prazer semelhante ao ler livros de Ruth Rocha (muitos!), Ziraldo (O Menino Maluquinho e tantos!), Lygia Bojunga Nunes (A Bolsa Amarela), Clarice – por que o espanto? Ela publicou cinco infantis - Ana Maria Machado, Marina Colasanti, e o autor que está presente até os dias de hoje no nosso imaginário na forma de Narizinho, Pedrinho, Emília, Visconde, Tia Nastácia e Dona Benta. O incrível Monteiro Lobato. Como assim “incrível”. “Muito pelo contrário”, é o autor mais do que capaz de fazer gerações e gerações acreditar no pó de pirlimpimpim.


Rosinha, por exemplo, brinca de vez em quando com esse pó mágico. Em 2005, esteve na Guatemala. Como convidada para o seminário sobre Ilustração de Literatura Infanto-juvenil, a convite da Embaixada Brasileira naquele país. Agora é a Embaixada da Eslováquia no Brasil que quer ouvir suas histórias. Mais de quarenta livros publicados em várias editoras brasileiras: Ática, Paulinas, Pallas, Melhoramentos, DCL, Callis, Landy, SM, Scipione, Brasil, FTD, Paulus, Projeto, Record, Folha de São Paulo, entre outras. Rosinha vai à Bratislava, aos pulos – por um lado, que nem Branca. Por outro, não saltou da montanha, vem desde 1994 – oficialmente – passo por passo, se arriscando nessa subida.


Sua nova viagem será na primeira quinzena do mês de setembro, na Bratislava, mas agora mesmo ela já está no município de Flores, no Sertão pernambucano, num trabalho de afirmar: “Ler é Preciso”, que ganhou forma de oficina, por se tratar de esforço muito grande, não se enganem vocês, num país que ainda caminha para superar o analfabetismo. Ou o egoísmo político. Bom, Rosinha continua sua aventura. Logo, entre os dias 19 e 26 de agosto, estará em São Paulo, em seminário de leitura promovido pela FNLIJ.


Sem falar que, como ilustradora, vez enquando se junta com autores como Ronaldo Brito (A trilogia do Baile do Menino Deus), e aí: “bum”. Recebe menção honrosa na Feira do Livro de Bolonha, Itália. Junta – se à Liliana Iacocca, natural do bairro da Mocca, dos imigrantes italianos de São Paulo, que em mais de vinte anos de carreira jornalística, resolveu pesquisar a vida de Lampião e Maria Bonita – a rainha e o rei do cangaço, e ganha o prêmio de melhor ilustração em 2006, pela segunda vez. Ah, sim, claro! A primeira, com direito ao selo ALTAMENTE RECOMENDÁVEL, da FNLIJ, foi em 2005, com a história da ovelhinha, lembram?


Quem quiser conhecer mais detalhes da história de Rosinha Campos, seu atelier fica num descampado também. Na Rua do Cupim, bairro das Graças, Recife, Pernambuco, Brasil. América Latina. Terra. Sistema Solar, logo aqui, na Via Láctea.


Texto publicado em:


Geórgia Alves é jornalista e especialista em Literatura Brasileira.









sábado, 24 de maio de 2008

(...) E desgraçada da sociedade com aspirações a democrática que, para viver decentemente, para conservar-se moralizada, para desenvolver sua cultura, para manter sua religião, não disponha de outros meios de conservação e desenvolvimento desses valores morais, intelectuais, estéticos, religiosos, senão o braço forte do gendarme e o lápis vermelho do censor.

(Gilberto Freyre)

Literatura Infantil: um texto feito para crianças?

Por Márcia Oliveira

Sabemos que este blog procura falar especificamente de Literatura Infantil, uma Literatura feita por crianças e para crianças, certo? Errado!


Os textos clássicos ditos "infantis" possuem hoje, de fato, uma linguagem direcionada para o público infantil, mas o que pouca gente sabe é que a maioria desses textos não foi escrita exclusivamente para crianças e tão pouco produzida por elas.


Já na Idade Média existia Literatura. Os contos e aventuras envolvendo princesas, heróis e cavaleiros saíam da imaginação de adultos e eram contados (oralmente) em grandes rodas literárias que mesclavam gente pequena e gente grande. Não havia um direcionamento específico à criança e nem mesmo uma preocupação pedagógico- moralizante em relação aos conteúdos.


A primeira versão popular do conto A Bela Adormecida, uma versão difundida no século XIV, trazia uma Bela que fazia amor com o príncipe e engravidava de gêmeos enquanto dormia, ou seja, sem ter a menor consciência de nenhum dos dois fatos. Esta versão foi fortemente censurada pela Igreja Católica no século XVII que, como instituição de maior poder ideológico da época, julgava (e ainda julga) ser o ato da concepção um ato sagrado de perpetuação da espécie e que, portanto, deve ser realizado de forma consciente.


Com a ascenção política e social da burguesia (século XVIII), a Literatura passou a direcionar alguns textos exclusivamente aos pequenos. A criança desta época já era vista como público-alvo-consumidor e deveria ser mantida em seu lugar na sociedade, ou seja, na ESCOLA. Um lugar que, como todos nós sabemos, reproduz toda a ideologia do sistema burguês que compreende também a igreja e a família. A trilogia da criança do século XVIII, ao contrário de Harry Potter e O Senhor dos Anéis, era: igreja-família-escola.


Foi neste período, entre os séculos XVII e XVIII, que começaram a ter grande destaque na Literatura os adaptadores. A adaptação nada mais é do que uma espécie de eufemismo, de substituição. O adaptador substitui o que não pode ser lido (por determinado público) pelo o que pode ser lido. Tudo com base no contexto ideológico da ordem político-social vigente em sua época. Ele é, na verdade, um sujeito histórico de seu tempo. Deve conhecer bem as necessidades e indagações de seu público e procurar respondê-las sem quebrar "a ordem e os bons costumes do texto".


Podemos dizer, sem medo de possíveis repressões, que o adaptador é, na verdade, um censor. A adaptação não se relaciona somente à linguagem do texto, mas principalmente ao seu caráter pedagógico-moralizante. Toda a ideologia burguesa contida nos Contos de Fadas e em outros textos clássicos infantis é fruto do trabalho de adaptadores reprodutores deste sistema.


Um dos primeiros adaptadores de textos para crianças de que se tem notícia é o francês Charles Perrault. No século XVII, Perrault coleta alguns contos e lendas da Idade Média e adapta-os, constituindo os chamados Contos de Fadas (Cinderela, Chapeuzinho Vermelho, A bela Adormecida). No entanto, Perrault fazia isso sem se preocupar muito com um dos dois maiores pontos de preocupação da Literatura Infantil: a sua relação com o POPULAR e com o PEDAGÓGICO. Perrault demonstra ter se importado apenas em fazer uma arte moralizante através de uma Literatura essencialmente pedagógica. Suas adaptações tentam, na verdade, mascarar os detalhes que correspondem ao gosto do público para qual ele realmente destina seus textos: a BURGUESIA.


Em Cinderela, por exemplo, a jovem inicia a história de forma precária, parte da vida simples e popular para a vida não-popular; para o nobre e aristocrático. Começa pobre, mas depois triunfa no final, num verdadeiro estereótipo burguês, e aí observamos referências à moda feminina, ao luxo, ao requinte, características que denotam a mulher burguesa.Sem falar na forte referência ao casamento como ascenção social, o ápice sócio-burguês.
Em Chapeuzinho Vermelho,encontramos um austero caráter de advertência, o melhor retrato da pedagogia moral de Perrault. Chapeuzinho é punida por desobececer, ensinando que a criança que desobedece "a ordem" ou aos adultos será sempre castigada por isso. Em sua primeira versão (censurada), o conto da Chapeuzinho era repleto de conotações sexuais e de referências ao canibalismo, prática de algumas tribos indígenas que acreditavam que, ao comer um indivíduo, poderiam atribuir para si suas virtudes.


De muitos dos contos de fadas que conhecemos hoje, não se sabe a verdadeira autoria, sabe-se apenas a autoria da adaptação, e foi só depois de passarem pelas mãos censoras e pelo lápis vermelho de um adaptador adulto que se tornaram clássicos infantis.


O papel do adaptador é mesmo muito relevante. talvez de maior relevância que o papel do próprio autor. Não podemos abrir mão de conhecer os processos de adaptação. Ter conhecimento sobre isso é uma maneira de conhecer a forma como essas obras literárias estão sendo produzidas e direcionadas a um jovem leitor, um leitor ainda em formação. É necessário aos educadores ter uma visão crítica e realista em relação à adaptação, pois ela pode ser o ponto de partida para a formação de um futuro leitor crítico (ou não).



Márcia Oliveira.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Cecília Meireles


A década de 1930 (2º momento do Modernismo brasileiro) valorizou bastante a Literatura Infantil. Quase todos os autores deste período trabalharam a Literatura Infantil, seja em prosa ou em poesia. Cecília Meireles, por sua sensibilidade à subjetividade da criança, foi uma das que mais teve destaque:



Colar de Carolina


Com seu colar de coral,

Carolina

corre por entre as colunas da colina.


O calor de Carolina

colore o colo de cal,

torna corada a menina.


E o sol, vendo aquela cor

do colar de Carolina,

põe coroas de coral


nas colunas da colina.



De fato, percebemos que a tia Cecília Meireles era muito boa no que se propunha a fazer nos seus poemas infantis. A personagem Carolina agrada e muito o imaginário da criança pelo seu poder de interagir com o mundo. Seu calor, sua energia, sua vontade de brincar unem-se ao sol, às cores de coral do seu colar e fazem com que a criança mergulhe no universo sonoro da poesia, através do ritmo sincronizado das estrofes provocado pela presença de aliterações. (O que é isso?) Bem, aliteração, para a galerinha que não sabe, trata-se de uma figura de linguagem caracterizada pela repetição de um som. No caso do poema Carolina, que acabamos de ler, a repetição sonora que ocorre é a repetição da letra "C". Ex: "Com seu colar de coral, Carolina corre por entre as colunas da colina".


Pois é, a tia Cecília era mesmo maravilhosa e escreveu muita coisa legal para as crianças. Em breve, poderemos conhecer e analisar mais poesias.


beijinhoooooooooooo...


Era da Lenda.

segunda-feira, 17 de março de 2008

A Literatura Infantil : suas Origens e Objetivos

Por Márcia Oliveira

Agora, saindo um pouco das historinhas de mentirinha e entrando nas historinhas de verdade, acho importante discutirmos sobre o que é a Literatura Infantil e quais seus objetivos desde a sua origem até os nossos dias.


Desde a Idade Média já havia Literatura Infantil. É sabido que naquele tempo a infância era algo um tanto quanto diferente do que concebemos hoje. As crianças não possuíam espaços exclusivamente para elas e, muitas vezes, levavam uma vida de adulto, trabalhando arduamente nas lavouras de uma sociedade até então eminentemente agrária. Mas, as histórias de heróis e cavaleiros fortemente vestidos com armaduras fascinavam não só crianças, mas adultos também. E detalhe: ainda não haviam inventado o livro. As histórias eram contadas oralmente, o que nos leva a afirmar que a Literatura Infantil, na verdade, é anterior ao livro infantil.


Com a Revolução Industrial e a ascenção da burguesia européia, sentiu-se a necessidade de ampliar a produção e controlar as massas. As crianças saíram das indústrias, o trabalho infantil fora abolido. Agora, entendia-se que o público infantil também era consumidor em potencial e precisava ser educado para tal. A escola passou a ter um papel social mais importante, um papel social pedagógico.


É nesse contexto que surge a Literatura Infantil. O livro didático ou o livro de histórias infantis tem um aspecto expressivamente pedagógico. Não é difícil percebermos que os clássicos da Literatura Infantil seguem sempre a mesma linha pedagógica: "criança, seja boazinha; não desobedeça os pais; estude; seja cristã".


No Brasil não foi muito diferente. Nossa Literatura para crianças até os anos 70 fora sempre voltada para a moral e os bons costumes. Somente a partir da década de 70 com Monteiro Lobato é que passamos a conhecer uma Literatura Infantil voltada para a criança e para valores sociais, culturais e, sobretudo, humanos.


Quem não se lembra do famoso Sítio do Pica-Pau Amarelo e de suas personagens mais divertidas? Pedrinho, Narizinho, Emília, Dona Benta, Visconde, Tia Anastácia? Personagens que ensinaram às crianças daquela geração a se tornarem adultos mais inteligentes e confiantes.


Monteiro Lobato soube traduzir como ninguém as perípécias do universo infantil. Um homem que cedo percebeu que a sociedade adulta estava perdida em se tratando de valores, e decidiu apostar tudo nas crianças, pois elas eram o futuro da nação.


Suas personagens são originais e transmitem às crianças valores diferentes dos da Literatura Infantil tradicional. Pedrinho e Narizinho são crianças livres, moram em um sítio cheio de aventuras, precisam ser espertas para escapar dos perigos que enfrentam. Aliás, a palavra de ordem em Lobato é a esperteza. A começar por Emília, uma boneca de pano que, como toda boneca, deveria ser manipulada pela dona, no caso a menina Narizinho. Porém, Emília é muito esperta, ela é quem manipula Narizinho e todas as personagens do Sítio. Em muitos momentos, percebemos na bonequinha até uma certa arrogância, um pedantismo típico da Sra. Marquesa de Rabicó.


Visconde de Sabugosa, o intelectual; Saci Pererê, o folclore brasileiro; Cuca, o sinistro da imaginação infantil. Todas são personagens que traduzem muito bem o imaginário da criança e o imaginário popular.


Lobato, ao contrário de outros autores infantis, sempre fez questão de retratar a sociedade e a cultura brasileira em sua obra. Nosso folclore, nossa cultura e crenças religiosas, nossa sociedade. Ninguém conseguiu ser tão bom criador de sociedades quanto ele. O Sítio do Pica-Pau amarelo é um ambiente repleto de sociedades.


Engana-se quem pensa que a Literatura Infantil constitui-se apenas de livros escritos para as crianças. É sabido que muitos textos hoje considerados infantis nunca foram escritos para o público infantil. Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, por exemplo, é a prova disto. Carrol chegou a ser acusado de pedofilia pelo texto. As aventuras de heróis e as novelas de Cavalaria também não eram eminentemente infantis, mas agradavam aos adultos e às crianças, que possuem subjetividades diferentes, mas isso não quer dizer que, de vez em quando, o adulto não liberte a criança que tem dentro de si. Para isso também é que existe uma coisa chamada: adaptação. Textos como o de Lewis Carrol; O Pequeno Príncipe, de Saint Exupéry e alguns contos de fadas foram adaptados para o mundo das letras infantis. O papel do adaptador chega a ser mais importante que o do próprio autor.


Lembro de minha mãe contando que já adolescente assistia ao Sítio do Pica-Pau Amarelo, não só ela, mas toda a sua família parava diante da Tv para assistir aos episódios da série infantil. Eu mesma, também na adolescência, cheguei a ver algumas reprises num canal público de Tv e percebi o quanto deviam ter sido bons aqueles tempos. As crianças criadas pelas travessuras de Emília, Pedrinho, Narizinho e cia certamente souberam aproveitar mais da vida e da meninice do que nós, que fomos criados pela insípida turma da Xuxa.